terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Afeto e presença - nossos primeiros hóspedes


Quando eu anunciei minha vinda para o Nordeste, muitos amigos comemoraram, pela melhora que isso significaria na minha vida e também por terem um lugar muito mais legal onde me visitar. Mas eu sei que entre a vontade e a realização há alguns hiatos, uns menores, outros maiores, especialmente para quem vive numa megalópole.
Wagninho e Welli, que tantas vezes nos receberam (inclusive com Chico e Zen a tiracolo), com alegria e afeto, foram os primeiros a virem. Não pudemos dar total atenção a eles, como gostaríamos, cada um com seus prazos corridos, então eles saíram sozinhos metade do tempo, curtindo as praias lindas da região. Quando pudemos desfrutar de sua companhia, foi ótimo. Como é bom rever pessoas queridas, e lembrar por que gostamos tanto delas!
Ainda há o bônus inestimável de relembrarmos quem somos, pois elas nos mostram nesses reencontros por que também gostam de nós.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Mulheres no cinema: muito além da figuração

No mês passado, assisti a três filmes com temática feminina - as mulheres como protagonistas, sendo dois deles dirigidos por mulheres.
Quando estava frequentando as aulas da pós na Faculdade de Educação, escrevi um trabalho sobre três documentários que tinham a mulher como figura central, uma coisa cada vez menos rara. Sim, porque até há pouco as mulheres eram quase sempre coadjuvantes - ou a amada ou parente do protagonista, ou, como pontos fora da curva, uma revolucionária destituída de sua feminilidade, ou uma maluca qualquer.
Em tempos recentes, elas têm virado o próprio tema de filmes, resgatando inclusive histórias ameaçadas pelo esquecimento, como a das sufragistas do século XIX (episódio contado em As sufragistas, com Meryl Streep), das mulheres negras que serviam pessoas brancas no sul dos Estados Unidos (como mostrado no lindo Histórias cruzadas), das mulheres ou meninas que se voltaram contra um regime misógino e predador (a trama de Persépolis), das mulheres que sofreram abusos sexuais e psíquicos na ditadura militar no Brasil (O silêncio das inocentes, um documentário que trata desses episódios de horror), das mulheres comuns que agonizam nas mãos de maridos, parentes e desconhecidos abusadores (tantos e tantos casos, reais e recriados na ficção, como o primeiro filme dirigido por Angelina Jolie, Na terra de amor e ódio, sobre a Guerra da Bósnia).
Porque as mulheres têm se unido contra a misoginia, o machismo e todo tipo de desigualdade, as reações predatórias não tardam, como no ato monstruoso de um homem que, na véspera do Ano-Novo, matou doze pessoas em Campinas, nove delas mulheres (vadias, segundo ele afirma em uma bizarra carta de confissão), uma delas sua ex-mulher. Entre as vítimas, também estava seu filho, que ele dizia "amar".
Apesar desse horror ainda presente no nosso patriarcal país, acredito que o movimento feminino não pode mais ser impedido, em todo o mundo. E foi essa a sensação que tive ao assistir Aquarius, Que horas ela volta? e Olmo e a gaivota. Nas três histórias, mulheres que são ou aprendem a ser donas de suas vidas.
A maravilhosa Clara de Sônia Braga enfrenta tudo e todos pelo seu direito de continuar vivendo no espaço onde construiu tantas memórias, e o que parece uma simples querela entre uma mulher de meia-idade e uma construtora mostra questões mais profundas na dinâmica da cidade capitalista. Aliás, isso de ir desvendando camadas ocultas dos conflitos urbanos já aparece em outro filme de Kleber Mendonça Filho, O som ao redor, que já comentei aqui.
A doce Val vivida por Regina Casé no filme de Anna Muylaert me parece um exemplo dessa mulher contemporânea criada ainda para servir, nos moldes machistas da sociedade brasileira, mas que vai sendo levada para a iluminação pela filha Jéssica, exemplo da mulher desperta, que cobra seu lugar no mundo, sem baixar a cabeça para os outros. Quando Val se "atreve" a entrar na piscina, a cena é de uma doçura travessa e revolucionária ao mesmo tempo.
Duas mulheres assinam a direção de Olmo e a gaivota, a brasileira Petra Costa e a dinamarquesa Lea Glob. Os atores do Théatre du Soleil Olivia Corsini e Serge Nikolai estão no centro desse documentário ficcional que mostra a gravidez de Olivia e a partir de então sua relação com o companheiro Serge e com o trabalho na companhia. Entre trechos de ensaio de A gaivota, de Anton Tchekov, reflexões em off de Olivia e momentos de making off do documentário, vamos sabendo mais sobre a protagonista; no caso das mulheres, deve haver ainda, como aconteceu comigo, muitos espelhamentos diante de questões que todas já nos colocamos. Especialmente pela questão do direito ao próprio corpo, esse filme virou símbolo de uma campanha brasileira pelo direito da mulher de abortar, de ser mãe, de não querer ser mãe, de fazer com o corpo o que e com quem quiser.
Tudo o que posso dizer é que estou amando ver as mulheres no papel de si mesmas no cinema. Assim vejo a mim mesma, a outras mulheres que admiro, no cinema.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Mais pão sovado e o pulo do gato para a cor dourada

Eu já publiquei aqui a receita adaptada do Rogério Shimura para o pão sovado, que fiz e ficou ótimo. Mas foi outro dia, quando achei a receita do pão francês, que descobri como deixá-lo dourado sem ter que apelar para o grill do forno. Segundo o próprio Shimura, o acréscimo de açúcar (para quem não tem forno profissional) é que garantiria a caramelização e, portanto, a cor dourada.
Da primeira vez que fiz o pão, usei açúcar demerara. Desta vez, experimentei o refinado, e também não preaqueci o forno. Voilà! Os pães douraram e ficaram lindões. Da próxima vez, vou deixar mais tempo fermentando, o que deve deixá-los mais macios.
Com observação dos processos, os pães vão ficando cada vez melhores - sem ela, a qualidade seria só fruto do acaso.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Pão francês autêntico do Brasil - ou do Sudeste? ou de São Paulo?

Ou quase. Pelo menos na aparência. O sabor é ótimo, mas o pão de padaria sempre parece mais leve - talvez seja o melhorador (antes, era o bromato).
A receita que usei é atribuída ao Shimura pelo blog Cuecas na Cozinha. Só sei que funcionou muito bem - a massa ficou macia, elástica, pouco grudenta. As canaletas que Nana me trouxe serviram perfeitamente.
Abaixo a receita (não usei o melhorador como indicado originalmente):

Ingredientes:
500 g de farinha de trigo
5 g de açúcar refinado
5 g de fermento biológico seco
300 mL de água
10 g de sal

Preparo:
Misturar, nesta ordem, farinha e açúcar, acrescentar metade da água, mexer bem, adicionar o fermento, misturar bem, juntar o restante da água e o sal. Deve-se sovar até chegar ao ponto de véu - eu bati na planetária por uns 10 minutos, até a massa ficar bem macia.
Deixar descansar a massa por 20 minutos, e então porcioná-la em bolinhas de 100 g (a receita original falava em 65 g). Deixar descansar por mais 10 minutos e então modelar em pequenos filões. Deixar descansar por cerca de 40 minutos (enquanto o forno é preaquecido a 180 graus) já na forma com canaletas e polvilhada de farinha. Antes de colocar no forno, cortar a pestana dos filões, pulverizar um pouco de água sobre a massa e também no interior do forno, ao abrir, para criar a nuvem de vapor que forma a casca do pão.
Assar por cerca de 18 minutos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Mais uma ferramenta de panificação

Fazia tempo que queria comprar canaletas para fazer pão francês e baguete. Normalmente, são de alumínio e grandalhonas; só se encontram em lojas especializadas em panificação (e no bom e confiável Mercadolivre, do qual já sou fã, agora que moramos "no interior").
Assuntei minha cunhada que mora no exterior sobre as tais canaletas, pois lembrava de ela ter comentado que havia comprado para fazer pão francês.
Qual não foi minha alegria hoje ao receber as canaletas, feitas de silicone, num tamanho ideal para formas domésticas?
Agora é só experimentar!

sábado, 10 de dezembro de 2016

Espedito Seleiro e Iemanjá

Antes de ir ver Tom Zé na Concha, passamos no Ceasinha do Rio Vermelho, onde queria comprar algumas mudas, já que minhas sementes estão demorando muito a dar as caras, e eu preciso dos meus temperos frescos. Quase chegando ao boxe de destino, um dos poucos que têm mudas de temperos, o marido me chamou a atenção para uma bolsa com estampa de orixás, que seria "ótima para levar à praia", em um boxe com produtos artesanais - bolsas, sapatos, esculturas, brinquedos.
Qual não foi minha surpresa ao deparar com sapatos e carteiras feitos por Espedito Seleiro, que confeccionava as sandálias do bando de Lampião? Comprei logo a minha, azul, depois de balançar por uma branca. E também um avental com os orixás encabeçados pela rainha do mar. Ainda encontrei no boxe de plantas sálvia e orégano fresco, além de alecrim - só faltou o tomilho!
Uma surpresa agradável depois de passar pela muvuca natalina e desesperadora do shopping. O Ceasinha continua gourmet, mas até achei os preços razoáveis, pensando na carestia geral. E uma sandália do mestre Espedito Seleiro, ah, isso não tem preço!

Selfando

Na Concha Acústica do TCA, esperando Tom Zé apresentar suas canções eróticas de ninar, fizemos uma sequência de selfies.
Pra que foco? O foco é ser feliz.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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