sábado, 5 de setembro de 2020

Já sei desenhar, agora só me falta pintar

Tô tentando dedicar umas horinhas no final de semana a pintar ou desenhar - bordar ainda não. Como disse, demorei um pouco a definir um projeto pro curso de aquarela, e acabei criando quatro personagens femininas. Depois veio a questão da paleta de cada uma. Amaterasu foi a mais difícil; precisei pensar primeiro num desenho para o quimono para daí definir as cores do entorno. Com essa ideia de criar uma estampa - outra coisa que amo -, pensei que talvez fosse melhor usar a aquarela em bisnaga, que parece ter um pigmento mais concentrado, não sei direito, lembrando até um pouco a tinta acrílica. 
E daí veio a realidade crua dar na minha cara: não sei pintar! Vou ter que treinar muito as pinceladas em planos maiores para enfim executar o projeto! Deve ser por isso que gosto tanto dos fundos brancos quando crio ilustras com colagem ou bordo, para evitar preencher o fundo com cor, algo que precisa de paciência (que não tenho em grande quantidade) e muita habilidade (que eu tenho pouca). 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Dia 171

No dia 171, temos presidente fazendo campanha para que os brasileiros se vacinem só se quiserem, capangas do prefeito carioca nas portas dos hospitais tocando o terror para evitar a veiculação de informações negativas sobre o sistema de saúde, a dança dos ministros para julgar políticos e a si mesmos, 123 mil mortos no país por covid-19, a bizarra Flordelis amante-mãe-sogra-assassina some no mundo, mais meninas sendo engravidadas por parentes próximos, o Brasil é realmente um país difícil de encarar. 
Reunião de trabalho, infecção dentária tratada com antibiótico, dorzinha do piriforme querendo se reinstalar, pensamento no bolo de aniversário da sogra, promoção irresistível de vestidos que provavelmente serão usados em casa, um tortano de presente para um encontro que acaba não acontecendo, uma compra de cobertores para doação desfeita porque não realizam entrega, um aviso sobre um curso interessante de literatura e gastronomia. Tudo é um vir a ser como se a gente ainda tivesse tempo para esperanças. 
Porém, o que persiste é a vontade de largar tudo, de nunca mais fazer tarefas domésticas, coisa que aliás não desejo pra ninguém. A perspectiva de permanecer ainda muito tempo nessa forma encolhida de viver é desoladora, não tem sentido nenhum. Talvez a meditação proposta por amigos ajude a reencontrar um eixo, talvez a arte traga alguma reconexão. Talvez, talvez. O talvez é nosso presente e nosso futuro. 

domingo, 30 de agosto de 2020

Projetos para cursos de aquarela e bordado - representatividades

Ontem morreu Chadwick Boseman, o Pantera Negra, tão jovem, e responsável por devolver a tanta gente o sentido da representatividade negra. Ele lutava contra um câncer há quatro anos, e mesmo assim, após o diagnóstico, atuou em vários filmes, até mesmo um ainda não lançado, com Viola Davis. 
Ter sabido dessa perda tão triste foi o que me fez pensar mais profundamente nos projetos dos cursos de aquarela e bordado. A ideia do curso de aquarela e sumiê é criar uma cena com uma personagem, e eu nem tinha uma pronta. Mas daí pensei na representatividade de Boseman, no legado que ele deixa para jovens e crianças, e ampliei essa ideia para a representatividade feminina - quantas somos, como somos? Tantas, que é difícil dimensionar. O que me representa? 
Daí esbocei quatro personagens, cada uma ligada a uma entidade feminina associada a um povo, a uma etnia. Amaterasu, Oxum-Odoyá, Pachamama e Elfa. É pouco, eu sei. Mas é um começo. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Menu pós-operatório

Rita Lobo tem um livro e uma série no Cozinha Prática, no GNT, com o mesmo nome: "O que tem na geladeira?". Acho ótimo, porque trabalho muito assim em casa. Mas, diferentemente da Rita, que pega os ingredientes frescos, eu uso muito do que sobrou de algum preparo, tipo restô dontê. Por exemplo, descongelei grão de bico - já disse que sou a louca dos congelados nesta quarentena - e sobrou uma parte. Putz, vai estragar, e grão de bico anda tão caro! E por aí vai, com feijão fradinho, lentilha, quinoa, clara de ovo etc. 
Como esta semana extraí o tal dente que estava trincado há mais de um ano, tive que inventar mais umas coisas. Não podia comer alimentos quentes nem sólidos. Logo após a cirurgia, tomei meio pote de Chicabon, e foi ótimo, inclusive tive pouca dor e quase nenhum sangramento - claro que tomei todos os cuidados, tipo manter a cabeça elevada, não passar a língua na ferida, escovar os dentes com escova macia e na ferida passar um cotonete com enxaguante sem álcool e tal e tal. 
À noite, tomei gazpacho que já tinha deixado pronta, mas senti que irritou um pouco o curativo, porque é uma sopa bem ácida. No outro dia, tinha justamente o famigerado grão de bico na geladeira, já aos 89 do segundo tempo. Resolvi fazer uma pasta e almocei com ovos mexidos, nada incrível, mas até ficou bonzinho, e o resto do pote de Chicabon compensou. Só que sobrou pasta. Então tive que jantar também. Como tinha pensado em fazer fusili, inventei de colocar a pasta de grão de bico, e descobri que tem gente que faz uma tal bolonhesa de grão de bico - se aquele colega de Facebook gastrochato lesse isso ia ter um troço -, então resolvi acrescentar um pouco de molho de tomate. E também uns brócolis que tinha refogado no alho e azeite pro marido. Não é que ficou bom?
Hoje, resolvi voltar ao frango, cortado bem pequenininho, pra não magoar o curativo. E vi que tinha cenoura, esta fresca, além de um pedaço de ricota que Guga sempre diz que vai comer mas esquece na geladeira. Voilà, logo tínhamos nhoque de cenoura e ricota, além do pesto clássico congelado. 

O que é mesmo autocuidado?

Autocuidado é um dos termos mais em voga nos dias de hoje. Muita gente acha que só tem a ver com beleza, fazer um escalda-pés em casa, comprar a make caríssima da Rihanna etc. etc. 
Também é isso, se você acha que é. Eu, por exemplo, comprei batons nude da Dailus, que combinam com meu tom de pele amarelo-esverdeado. Amei! Preço de 1/8 de um batom Mac, e ainda é vegano, tem skin tones, ultramacio. Também comprei uma máscara detox da Nivea, ótima, e um hidratante poderoso da Neutrogena, Hydro Boost, com ácido hialurônico, porque, quase aos 50, se não cai, tudo seca. 
Mas autocuidado não é só isso. Tem também a ver com tirar um tempo para si, e não só o do escalda-pés, que é maravilhoso, mas também para não fazer nada, para não aceitar desaforos, para aprender algo novo só por esse gostinho, com praticar uma atividade física prazerosa, com comer uma comida gostosa e saudável. Claro que é difícil o autocuidado onde faltam direitos essenciais, como água, luz, saneamento básico, trabalho, comida, mobilidade, educação. E mesmo assim, no Brasil, a indústria de beleza e farmacêutica só cresce, atendendo aos bolsos de todos os tamanhos - há quem economize no mercado para comprar um bom shampoo. Está errado isso?
Parece uma discrepância, mas isso só revela como todo mundo quer se sentir bonito e admirado. Parte da nossa saúde emocional vem mesmo do olhar do outro, mas não pode depender dele. Acho que uma coisa boa da proximidade dos 50 é justamente aprender a depender menos desse olhar (normalmente masculino) e valorizar mais o nosso próprio olhar sobre nós, por dentro e por fora, aceitando o que somos. Acho também que os debates recentes sobre feminismo têm trazido essa pauta com força: cuidarmos de nós e umas das outras, tendo um olhar mais amoroso sobre a diversidade, deixando de seguir os padrões impostos. 
Autocuidado, em todas suas acepções, é principalmente feminino. Homens heterossexuais não costumam praticar - embora haja um tantinho em desconstrução - porque nunca precisaram; eles são aceitos com muito menos cobrança por toda a sociedade - a menos que sejam pobres e pretos, e neste caso seria preciso evocar uma mudança social muito maior, para além do autocuidado, para que sua aceitação se desse. O que seria bom para todos, homens, mulheres, velhos, crianças, trans, gays, héteros, todas as cores - a beleza, o cuidado e o respeito estariam em tudo. 

domingo, 23 de agosto de 2020

Sem tempo, irmão

Outro dia li uma crítica à atual produtividade em momentos de lazer, um fenômeno próprio da quarentena. Tipo ver série na Netflix ao mesmo tempo que faz bolo e participa de videoconferência no Zoom. 
Bom, não tecerei críticas a isso, porque fiz isso desde sempre, três ou quatro coisas simultaneamente, fosse para ganhar tempo porque morava longe e/ou porque demorei a ter acesso a várias dessas coisas (inglês/francês/judô/trabalho/faculdade/licenciatura na mesma época, por exemplo), fosse por alguma posição astral favorável dada no meu nascimento e sempre salientada por meu querido amigo Marcelo. Na verdade, agora, com a pandemia, tendo a seguir na direção contrária, de tentar focar em uma coisa de cada vez para não pirar. 
A nossa relação com o tempo sempre dá pano pra manga. Hoje, com a pandemia, o tempo parece ter saído dos trilhos, já que a rotina foi desmantelada, e é ela que nos coloca na conta do relógio, no final das contas. Não é de estranhar o sucesso de uma série como Dark, já que falei em Netflix, especialmente durante a quarentena. Os paradoxos do tempo e da existência vêm dar um nó definitivo na cabeça, apertar a mente geral. Some-se a esse tempo desmantelado a cultura das novas tecnologias portáteis e das redes sociais, e pronto, a salada está feita. Acho até que para as novas gerações isso é normalíssimo, não é nenhum fenômeno pandêmico - meu enteado consegue conversar conosco, fazer pesquisas na internet e responder a mensagens no WhatsApp, além de dar umas espiadas no filme a que estamos assistindo, sem perder a postura low profile.
Na pandemia, tudo urge, mesmo em meio ao ócio. Uma contradição digna de Dark. Todos que podem tentam fazer o tudo ao mesmo tempo dos millennials mas nem todos o fazem com a mesma naturalidade, e disso advêm estresse e frustração, porque a realidade é que, apesar da confusão temporal trazida pela Covid-19, as responsabilidades do mundo capitalista continuam a chegar, e têm sido incrementadas pelas necessidades sociais e econômicas e sanitárias de milhões de desconhecidos. Não só a sensação de poder gerir o próprio tempo foi tomada, como também invadida pelos problemas alheios, que agora são de todos. Como, então, curtir ao máximo na quarentena em casa se lá fora o panorama é dos piores? Não dá só para maratonar séries, fazer cursos, assistir a lives, bater papo no Zoom enquanto o mundo acaba e também quando ainda é preciso trabalhar, limpar a casa, comprar e fazer comida - e que bom que isso ainda é possível para muita gente!
No começo da quarentena, como já disse, fiquei meio desnorteada, e até embarquei nessa de fazer mais zilhões de coisas. Fiquei exaurida em pouco tempo, porque ainda tinha que trabalhar, limpar casa, cozinhar etc. Não, não dei conta. E vi que nem precisava, que não estou aqui para isso. Aliás, a única coisa que me devolve a sensação de ter uma rotina é justamente criar uma, fazendo uma coisa de cada vez, finalizando tarefas - e a qualidade de ser multitarefas num momento tão atípico como este acaba se esgarçando, e parece que as tarefas não têm fim (OK, algumas não têm mesmo, como limpar a casa). Teve dia que escolhi finalizar dois cursos de hortas no lugar de lavar banheiro. E tudo bem. Lavei no outro dia, e ninguém morreu. Tenho me cobrado menos, embora mantenha no horizonte minhas responsabilidades, que também ando revendo.
Talvez - essa é uma grande esperança - seja sinal de maturidade o fazer o que é possível no momento, um dia de cada vez. Ou talvez - o paradoxo dá nova volta no parafuso - não haja tempo para ser de outro modo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O mundo está ao contrário e ninguém reparou?

É tanta notícia ruim neste país nos últimos dias que a mente demora muito a serenar para que a gente possa se tornar minimamente produtiva ao longo do dia. Não bastassem as notícias da violenta expulsão das famílias de Campo do Meio, MG, que ocupavam há mais de 20 anos terras da usina falida onde haviam trabalhado, e lá produziam agricultura orgânica e o melhor café da região, do avanço da Covid-19 no país e no mundo, do desmonte incessante da cultura e da educação, da morte de centenas de indígenas por assassinato ou por Covid-19, há essa história horrível da menina capixaba de 10 anos, estuprada pelo tio desde os 6, grávida, que não conseguia abortar porque os médicos se recusaram e depois enfrentou uma turba de fanáticos religiosos, diante do hospital que aceitou fazer o aborto, que chamavam a criança de "assassina". Fiquei tão perturbada desde que soube dessa história, e dos seus desdobramentos que indicam todo nosso retrocesso e fracasso social, que hoje nem consegui trabalhar. Só pensava na criança, assustada, roubada de sua vida, aviltada por alguém da família e por estranhos. Que país, que mundo, que tempo são estes?
Depois de tudo o que temos visto sob a luz atordoante dessa pandemia, vamos seguir sendo os mesmos, sabendo-mas-ignorando as situações gritantes de desigualdade do nosso país? Ou vamos agir de forma efetiva e contundente para evitar que as trevas cubram tudo até não sabermos mais onde estamos nem quem somos?

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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