domingo, 26 de janeiro de 2025

Encontro fortuito

Adoro encontrar gente querida de forma inesperada. Edna e família estavam aqui em Salvador, e precisavam de algum lugar onde deixar as malas até a hora do voo. Imagine se não ia chamá-los para virem aqui! Mais umas horinhas para botar papo bom em dia.

sábado, 25 de janeiro de 2025

Cajón

E lá fui eu me arriscar.
Tenho um amor incomensurável pela música, mas nunca estudei nada - teoria musical, instrumentos, canto. Só cantei em coral, e sempre foi algo arrebatador.
Ao lado do amor, o temor de algo verdadeiramente novo. Quando falo em me arriscar em coisas que envolvam habilidades manuais, no fundo há um certo conforto, pelo menos maior do que em coisas que envolvam sons e ritmos. 
O professor, João Paulo, a paciência encarnada. Eu, para variar, a única que não manjava nada de música (todo mundo já tinha feito ou faz aulas de alguma coisa - piano, percussão, bateria, pandeiro). Houve momentos que dei uma "dublada"; em outros, fechei os olhos para ouvir melhor. Às vezes, parecia que meu cérebro ia entrar em curto. 
Pode ser só a idade, mas pode ser também porque pela primeira vez estou fazendo algo que me tira realmente da zona de conforto. E por que saímos da zona de conforto? No meu caso, acho que é porque quero manter meu cérebro ativo, não só com coisas diversas no dia a dia, mas com coisas de fato novas, para as quais ele precisa ampliar as redes neurais.  
O fato é que me sinto caminhando em direção ao desconhecido, como quem se apaixona pela primeira vez. Pode dar ruim, mas pode ser sublime - quem me garante que não?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Mais estranho que a ficção é passar pano pra macho em 2025

Nos últimos dias, um escândalo editorial ganhou as redes, guardadas as devidas proporções - sim, porque é, ainda, um basfond "de nicho", não interessa à maioria da pessoas que ainda leem notícias. Claro que chamou a atenção das pessoas do meu círculo, porque conhecemos os envolvidos ao menos pelo nome. Foi uma amiga do círculo que me enviou o link do podcast Rádio Novelo, que eu já seguia - mas o link era para o episódio "CPF na nota?", que tratava de um caso de assédio e traição vivido pela escritora Vanessa Barbara. 
O que ela narra, tão antigo e atual, vai, como se fosse a primeira vez, fazendo aumentar nosso desespero, ansiosas para que termine logo, para que ela chute o macho escroto logo. Mas não, ela narra em detalhes, sem citar nomes, como aconteceu, e não como queríamos que acontecesse, e o tormento é longo para nós, foi longuíssimo, infinito, para ela. 
Claro que logo, nas redes, apareceu a lista de envolvidos, o ex(graças à deusa)-marido sócio da editora Todavia e os tais amigos do marido, editores e escritores de renome. De um deles, aliás, fui reler um livro no ano passado e pensei "esse cara não entende nada de mulher". De um outro, li um livro super incensado que achei péssimo, mas até aí, OK, opinião minha (será? ou será que ele conseguiu os holofotes por fazer parte de um clube? é uma possibilidade também).
Em alguns dias, o assunto escalou nas redes, com direito a carta aberta do ex-marido se desculpando e a editora Todavia se dizendo contra qualquer forma de violência etc. Que ótimo, mas, como colocaram diversas pessoas (mulheres, subentenda-se), por que não fizeram algo prático para reduzir a desigualdade entre homens e mulheres? Sim - porque não só o sujeito traiu a mulher, mentiu, manipulou, expôs a intimidade para o grupo de 14 amigos escritores e editores cisgênero, como também ela perdeu oportunidades de trabalho. Nunca li nada de Vanessa, mas agora sei que ela era uma jovem promessa literária, com direito a Jabuti - mesmo morando no Mandaqui e "com desenho esquisito de sobrancelha", como fez questão de apontar a atual mulher de André Conti (vamos dar nome ao boi?). 
E aqui o horror do trauma sofrido há 14 anos (trauma não tem data de validade, vale assinalar) foi para outro nível, o da autoexposição da esposa. Pior: vindo de uma mulher, escritora, nordestina, que se diz feminista e que, entre seus argumentos, critica o "país de merda onde vive" (e que um escritor não consegue sobreviver do que escreve, e pior é para as mulheres, vejam só), mete um "quem nunca errou, quem nunca teve grupo pra falar mal dos outros", além das já mencionadas críticas à aparência e à origem de Vanessa (ela fala até dos gostos pessoais da outra, misericórdia, como as tartarugas, o vôlei, a aparência do novo marido). Não contente, diz que Vanessa não sabe escrever, ninguém a lê, embora use o fato de Vanessa ter sido premiada, ter viajado e escrever para alguns veículos importantes justamente como argumento de que ela não foi jamais prejudicada pelo clube do bolinha editorial do qual Conti faz parte. Ela faz um desserviço a si mesma, em vez de deixar o marido resolver seu próprio B.O. (sei bem como é, vivi uma situação de uma ex querer me colocar no problema que ela tinha com meu parceiro, e eu disse não, e pedi a ele para resolver o que tinha a resolver com ela, que não era um problema meu). Então, a questão não é de mulheres disputando o macho, a esposa é outra vítima, não é uma rinha para divertir homens, nem se trata de invasão de privacidade (como alguns parças do careca argumentaram, porque Vanessa descobriu a traição e a invasão à privacidade DELA porque monitorou o computador de André) mas, de novo, sobre as desigualdades de sexo e de gênero que normalizam e normatizam comportamentos misóginos, abusivos (nem comentei o gaslighting do ex, que sugeriu que ela aumentasse a dosagem do remédio para depressão) e impedem mulheres de estar em toda parte onde gostariam de estar. 
A propósito disso, os lugares ocupados por mulheres, acabei me lembrando do texto de Antonio Prata quando saiu a notícia de que uma futura lista da Fuvest só teria autoras. Mulheres. Ele ficou inconformado com a ausência dos "cânones", leia-se "homens", puro suco da cultura hegemônica patriarcal. E hoje, ao me lembrar disso, topei com um texto da genial Jana Viscardi, rebatendo Marcelo Rubens Paiva (sim, o autor do legitimamente celebrado Ainda estou aqui), que respondia, solidário, a Prata com um pesaroso "eu, como homem branco, hetero, cis, não me atrevo a dizer mais nada". Parecido com o texto do Chico Bosco que comentei aqui. Os homens estão sofrendo, coitados.
Nós, mulheres, já estamos há tempos perguntando o que fazer para mudar essa situação. E os homens, gostariam de mudar essa situação, de mudar a si mesmos, de melhorar? Alguns, com certeza sim. Mas a maioria me parece ainda confortável em seus privilégios - alguns emprestados, porque homens gays e negros não gozam de todos os privilégios de brancos cisgênero, podem compor quando muito masculinidades cúmplices ou subalternas, como aponta Raewyn Connell. 
O vídeo de Pedro Dória, por exemplo, comentando o episódio da Rádio Novelo é de embrulhar o estômago, mostrando um homem que não só quer manter as estruturas patriarcais como são como também quer explicar às mulheres (mansplaining é o nome disso) como devem se sentir e lidar com suas dores, misturando, na argumentação pífia e arrogante, guerra ideológica, pautas identitárias, luta entre esquerdas, com seu viés totalmente hegemônico. Em compensação, Milly Lacombe publica um vídeo falando da raiva das mulheres, motivada justamente pelas estruturas intimamente defendidas por Dória, mas o que ela propõe é diálogo, é melhora, não só para mulheres, mas para todas, todos, todes. É isso o que as feministas de fato propõem.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Às vezes eu quero demais, e eu nunca sei se eu mereço

Meodeos, já vai acabando janeiro e ainda nem consegui organizar as 300 ideias que tive. E isso porque este ano resolvi que iria me concentrar em poucos projetos, só que eles começam a se desdobrar, como um origami ao contrário, e aí... 
Ainda no ano passado, resolvi que ia costurar um macacão para depois bordá-lo. No meio do caminho, a aquarela se impôs, o cajón veio em seguida, estudar teoria musical... Daí pensei em comprar um macacão ou blusa ou vestido pronto para bordar, mas está tudo tão caro, ou tão malfeito que desisti. Entonces me lembrei de um vestido jeans que eu adoro, mas só tenho usado em casa, já antiguinho. Por que não?
A ideia permanece, um mar de palavras (inclusive a frase de Antonio Cícero que dá título ao post). Água de novo. Nova releitura de Hokusai. Minha outra parcela de ancestralidade - antes foi a nordestina, com o são Francisco.Vai dar certo? Sei não, só sei que os dedos já coçam. Que as deusas me inspirem. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Os desafios da glicose podem ser legais

Outro dia, Guga me enviou um e-book de uma francesa, Jessie Inchauspé, que ficou conhecida como Deusa da Glicose. Ela é matemática e biocientista, e aprendeu na pele como a glicose influenciava sua disposição ao longo do dia. Não se trata de uma dieta, mas de dicas de como se alimentar - a ordem dos tipos de alimento - para evitar picos e vales de glicose, que causam indisposição, sono etc. 
Claro que essa flutuação extremada pode ser causada por intolerância à insulina, diabetes, mas a ideia de operar pequenas mudanças na maneira de me alimentar, mais do que no tipo de alimento, me pareceu atraente. Inchauspé fala, inclusive usando gráficos e estudos em publicações científicas, da importância de se comer verduras antes de tudo, depois proteínas, por fim carboidratos - incluindo frutas e o docinho após o almoço. Também insiste na cilada dos sucos de frutas, especialmente o de laranja, ai jesus - nada que eu não soubesse, mas é mais duro com evidências científicas.
Eu achei bacana, porque se pauta em explicações que fazem mais sentido para mim do que só dizer que "é bom" começar pela salada. Tudo se relaciona com a ação da insulina e, portanto, da glicose no organismo. Daí não preciso abrir completamente mão do pão, mas convém reduzir o açúcar adicionado MESMO. Excesso de lácteos, já sei, me dá refluxo e alergia. Mas, por paradoxal que pareça, a liberdade de escolha acaba por despertar a vontade de ser mais saudável.

Na guerra contras as identidades, a maioria perde

Um dos efeitos indesejados do sucesso do filme Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr., foi evidenciar ainda mais o ataque contra as pautas identitárias. Em meio à premiação de Fernanda Torres como melhor atriz de drama no Globo de Ouro (com direito a aplausos entusiasmados e em pé de Tilda Swinton), houve comentários negativos, inclusive do Chavoso da USP, sobre o valor do filme, já que retrata pessoas brancas, de classe média alta, enquanto pessoas negras sofrem o terror todo dia, até hoje. 
Como discordar dessa constatação, de que pessoas pobres e negras sofrem muito mais que pessoas brancas e com mais recursos? O problema é encampar a luta por quem sofre mais em vez de se unirem todos contra o opressor comum - capitalismo, patriarcado, a zorra toda. Cujos líderes seguem felizes enquanto nos atacamos uns aos outros. A iniquidade não vai acabar com lutas internas. E ainda mais quando pessoas da própria esquerda ou minimamente mais liberais veem as pautas alheias como frescura. Vejo isso no meu círculo, e sinto uma tristeza enorme, mas também uma preguiça de debater. É nesse desencontro que a extrema direita se fortalece, e as desigualdades sociais seguem cristalizadas.
Até o fato de Walter Salles Jr. ser rico serviu de argumento demeritório. Mas que bom que ele resolveu empregar o dinheiro dele (não, ele não usou a Lei Rouanet) para produzir um filme com ESSA história, sobre AQUELE período. E que valor imenso teve Eunice Paiva, para além de esposa do ex-deputado Rubens Paiva, na constituição da Comissão da Verdade para apuração das mortes dos desaparecidos políticos e também junto aos povos indígenas. Que bom que as lutas que escolheram foram pela maioria da população, e não somente pelos integrantes de seus quadrados. Se negassem as existências, as identidades alheias - as ALTERIDADES -, perderíamos muito mais e nem nos daríamos conta.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O vaivém de Virginia

Na época do colégio, eu adorava copiar fotos e ilustrações que me encantavam, como os retratos de Virginia Woolf, Olga Benário, Chico Buarque e a famosa ilustração de Santiago e o menino feita por Raymond Sheppard para O velho e o mar. Costumava presentear os amigos com minha "cópia", às vezes na forma de cartão de aniversário. Quando encontrei Carlos, ele me lembrou de eu tê-lo presenteado com uma releitura de Picasso num cartão. Ousada, eu. 
Dos retratados, Virginia Woolf é a que volta e meia mais me reaparece na vida. Desde sua descoberta, aos 14 anos, com Orlando, que me espantou em tudo, passando por Entre os atos, aos tardios Um teto todo seu e Mrs. Dalloway
Calhou de minha cunhada ser uma especialista em Woolf e nos presentear com suas traduções primorosas. E Woolf, que havia voltado como ícone feminista, agora retornou com um trabalho. Daí recuperei este desenho feito nos anos 1990. Acho que suavizei o queixo, um pouco mais proeminente. Mas continua me encantando/espantando essa personalidade tão repleta de luzes e sombras, uma ode marítima de emoções.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Que venha 2025

Uma virada simples, com amigas recentes, jantar e praia. Coordenando o comer 12 uvas e saltar sete ondas, beber espumante, tudo ao mesmo tempo, no meio da alegria e da esperança gerais. E deu certo, e vai dar certo. Que venha 2025, prontas estamos.

Um dia, você enfim soube o que tinha que fazer


Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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