quinta-feira, 10 de abril de 2025

Alegria e tristeza de Chico

Na semana passada, fui assistir à maravilhosa Angela Velloso, acompanhada do papis Duarte Velloso, no Cinesom, cantando Chico Buarque. Angela aplicou sua verve jazzística às músicas de Chico e ficou tudo lindo. Chico, o geminiano tímido com ares traquinas, ficaria feliz da vida. Certamente não gostaria de saber, contudo, que, quando Duarte Velloso puxou um "sem anistia", não recebeu de volta o coro comme il faut, como seria de se esperar de uma plateia que sabia todas as músicas de Chico Buarque, sendo a maioria delas de cunho político. Eu fiquei escandalizada, imagine o poeta - passaria de um estado de euforia para enorme tristeza em segundos. 
Mas tudo bem, Angela, Duarte e Chico - nós, que rejeitamos a anistia para golpista, ainda estamos aqui.


terça-feira, 8 de abril de 2025

Emocionada

Mal começaram as aulas no Neim e já devo ter chorado uma meia dúzia de vezes, ouvindo aquelas histórias tão diversas e tão conhecidas. O que dizer, então, da professora Alba Motta, do alto de seus 93 anos, pioneira do núcleo, que venceu as dificuldades de locomoção para compartilhar conosco, com voz muito baixinha, suas histórias? E da presença da pequena Aya no salão da congregação da Faculdade de Direito, um espaço ainda não tomado pelas feministas? A melhor imagem dessa emoção são as mãos que se buscam na troca de afetos, na foto feita num dia intenso, dia de usar azul para vencer as demandas todas. Pelo menos por hoje, venci, vencemos.

domingo, 6 de abril de 2025

Coisa de mãe?

Quando fui morar sozinha, minha mãe começou a cultivar um hábito que só se interrompeu quando mudei de estado - me presentear com panos de prato e linhas de costura. Não sei exatamente por que, mas imagino. As canetas, inclusive com meu nome gravado, tinham sido um hábito da época do colégio, mas ela me deu uma caneta chique quando me formei. 
Ela encontrou, este ano, um jeito de me presentear de novo, não com panos de prato, que talvez não valessem o custo dos correios, mas com jogos americanos, crochetados por sua talentosa irmã caçula. Enviou as seis peças de um lindo azul com duas canetas, para não perder o hábito, e numa caixa bonita de presente, com cores combinando. Já estou usando, claro. 
Eu já devo ter dito que sempre me senti mais mãe da minha mãe do que filha. Testemunhei a dificuldade dos meus irmãos na relação com ela, um ressentimento mais ligado à imagem cristalizada de maternidade vendida até hoje. Apesar da dificuldade que minha mãe tem em expressar afeto, que eu atribuo a uma questão cultural mas também familiar, sempre pensei em todo o esforço que ela fez por nós, sobretudo materialmente, não vendo limites, até se prejudicando, para nos manter vestidos, alimentados, equipados para os estudos. 
Quando ela ficou comigo por quase um mês tive acesso a outras camadas da sua personalidade, dos seus silêncios, da sua forma de reagir a violências na vida. Agora há ainda o envelhecimento, que a torna mais frágil, mas não menos teimosa em alguns aspectos. Mais e mais eu vejo em mim parecenças com ela, que, como as herdadas de meu pai, tenho que administrar. É interessante como me vejo mais herdeira de meus avós, muito mais por ter aprendido e apreendido coisas com seus exemplos, mas de meus pais vêm outras coisas, a que, mesmo não desejadas, é preciso dar um destino. 
A única coisa de que tenho certeza nesta vida é que temos que aprender a enxergar o que as relações nos trazem, de que forma se tecem os afetos e, mais importante, o que fazemos com eles. O jogo americano já está sobre a mesa, já me acompanha nas refeições e sempre me faz lembrar tudo o que minha mãe fez por nós, que, mesmo não sendo o que se esperava dela, era o melhor que ela podia fazer - o que, levando em conta o quanto as pessoas estão dispostas a dar de si, é muitíssima coisa, é maravilhoso.

A dona da voz

No ano passado, quando estive com Carlos, entre tantos assuntos da nossa conversa nunca longa o bastante, falamos sobre voz. Acho que o assunto começou porque ele comentou sobre minha capacidade de manter múltiplos interesses distintos do trabalho, como cantar. Daí passamos à questão da impostação da voz, da importância que isso sempre teve para nós, por motivações diferentes, mas com o mesmo fim: sermos ouvidos. 
Pequena ainda, devo ter percebido o efeito de falar alto e claramente nas primeiras declamações em público, depois na peça escolar. Mas, no decorrer da vida, ao mesmo tempo que ouvia que deveria trabalhar com a voz, havia quem dissesse que eu falava muito alto, que eu precisava me conter. Se, para Carlos, era importante impostar a voz para se colocar no mundo, no meu mundo feminino era preciso o contrário, não demonstrar força. Por bastante tempo, acabei reservando a potência somente para as situações em sala de aula.  
O canto, contudo, sempre esteve ali. Sem pretensões de brilho, mas por uma necessidade da alma. E quando cheguei a Salvador foi uma das coisas que me ocorreram retomar. A pesquisa Google me indicou os cursos de extensão da UFBA; entrei em contato, havia perdido a inscrição. Fui fazer outras coisas, mas este ano priorizei me inscrever na EMUS, a escola de música da universidade. Depois de preencher o formulário, achei que não iriam me chamar para o teste, pois a tudo respondi com não - sabe cantar, sabe tocar, sabe ler partitura?
Contudo, recebi um email falando dos dias e horários dos testes. Quando chegou a data, pensei em não ir. Mas, arianamente, fui. Na minha vez, fui tomada pelo nervosismo, que só aumentou quando vi a banca de três jovens professores e eles me perguntaram "o que eu ia cantar pra eles". Eu não tinha preparado nada, imagine o disparate. Daí cantei o que me ocorreu, Lenine por Virgínia Rosa - que eles, aliás, não conheciam. 
Para resumir a história, depois de eu ter descido a Centenário meio chorando, meio cantando, fui aprovada para uma turma, que, depois descobri, só tem mulheres mais velhas. Pelo que disse a jovem professora, egressa da Paraíba, ela esperava fazer uma espécie de coral conosco, pois era parte da sua experiência anterior, um coral da terceira idade. Contudo, ela logo viu que não seria possível, pois cada uma das cinco maduras tinha uma expectativa, menos a de ser cantora de coral. Essas aulas têm tudo para serem interessantíssimas, portanto. 
Além do mais, o prédio da EMUS me lembra os puxadinhos do Anglo. A decadência é compensada pelo trânsito de jovens, velhos e crianças em busca de algo mais belo que o cotidiano. Cada um em busca de sua voz, de seu som, de seu timbre único, belo e incomparável. 
(P.S.: compartilhando essas experiências com Carlos, soube que ele também começou a cantar, uma lindeza!)

segunda-feira, 31 de março de 2025

NEOJIBA no aniversário de Salvador

No dia 29 de março, Salvador completou 476 anos. Ela é ariana. Isso explica muita coisa. É muita efervescência, muito "bora ali" para que fosse diferente. Não quer dizer que seja fácil. Mas, mesmo com os poréns que toda cidade tem, e Salvador tem índices sociais difíceis, mesmo assim, eu me adaptei muito bem, e até recebi o que para mim foi um elogio de um motorista de aplicativo: "a senhora já é baiana". Como soa diferente do "jeito baiano de ser" de uma certa ex-chefe minha!
Calhou de, exatamente no aniversário da cidade, eu ir, com Liu, assistir pela primeira vez à apresentação do NEOJIBA, o núcleo de orquestras jovens e infantis criado pelo maestro Ricardo Castro em parceria com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia. Não tenho nem palavras para descrever. 
Com certeza é emocionante ver a OSBA em ação, mas assistir àqueles jovens tão compenetrados e, ao mesmo tempo, divertindo-se enquanto tocam, como os contrabaixistas em coreografias e sorrisos, é de levar às lágrimas. Pensar em quantos jovens são retirados das ruas e na oportunidade de fazer valer a justiça social, isso não tem preço. Por isso, a apresentação, que começa com Carlos Gomes, passa pelo soturno Sibelius, depois a alegria Broadway de Bernstein, tinha mesmo que terminar com a apoteose de Martín Fierro de Ginestera. Pura beleza, pura beleza. 
E Salvador é assim também - som de mar e pássaros, fortes contrastes, muita intensidade, muita música e multidão, festa, luta, identidade. Só tenho a agradecer por ela me receber tão bem.

domingo, 30 de março de 2025

Sonhos não envelhecem, a gente sim

 
Uma vez na Bahia, eu já tinha pensado em estudar na UFBA, mesmo quando morava a mais de 50 km de distância; já tinha descoberto um dos núcleos interdisciplinares, quando nem me imaginava morando na capital. 
Quando me mudei para Salvador, me vi ao lado do campus da universidade, sem ter planejado isso. Claro que disse para mim mesma que teria de fazer alguma coisa ali, nem que fosse só frequentar a feira agroecológica (o que de fato comecei a fazer, só para esquentar os motores). Depois comecei a frequentar a escola de dança, e por fim me matriculei como aluna especial do Poscultura. 
Este ano, consegui me matricular no Neim - eu tinha enviado uma mensagem há uns cinco anos, perguntando como fazer para integrar o grupo do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher. Como fui ficando escolada no calendário da universidade, pude me inscrever para o processo de aluna especial na época certa. E lá fui eu, fazer duas disciplinas, marmita rosa na bolsa, voltando com uma coleção de livros de presente.
A primeira aula foi muito emocionante, especialmente por ouvir tantas histórias de mulheres retornando ao ponto onde pararam - pelos motivos já sabidos, família, trabalho, cuidar do outro -, o que não ouvi muito no curso anterior, com maioria masculina - e não há acaso nenhum nisso. Uma colega do Rio comentou comigo que achava que já conhecia todas as novas companheiras, eu respondi que é porque já conhecia mesmo - sendo tão diversas, temos tanto em comum que até chegamos a esse mesmo lugar. 
Eu me vejo de cabelos mezzo brancos, mezzo escuros, o inevitável envelhecimento, voltando à sala de aula, agora valendo, com o friozinho na barriga do primeiro dia de aula de sempre. Fiquei encantada com as falas de esperança, luta, revolução, afeto, justiça, e quase comecei a chorar no meio da aula - e chorei, quando uma jovem colega compartilhou sua história de primeira pessoa a se formar na família, sua descoberta de um lugar na capoeira e agora recém-aprovada no mestrado, afe! Haja coração, haja coragem para seguir andando, porque os sonhos aí estão, vivos, à nossa espera como flores no caminho, sem se aperceberem da cor da nossa pele, da cor dos nossos cabelos. Bituca, Márcio e Lô sabem de tudo, os danados.

sábado, 15 de março de 2025

Brownie de matchá e chocolate branco

Na minha última viagem a São Paulo, fiquei impressionada com a quantidade de preparos com matchá, além do onipresente pistache (que nem aguento mais ver, a propósito). Até floresta de matchá, versão de floresta negra feita com o chá verde em pó. Amei tudo que provei, então trouxe o chá, que achei caro, aliás.
Mas o tempo foi passando e eu não tinha nem mesmo aberto o pacote. Outro dia vi uma receita de Rita Lobo de um brownie de matchá com chocolate branco e então me animei. Fiz hoje - além de lindo e fácil de fazer, ficou uma delícia. Logo congelei a maior parte, já organizando minhas futuras marmitas. 

sexta-feira, 14 de março de 2025

Bentô, peloamô!

 
Há pelo menos três coisas imediatas que identifico em mim como herança japonesa (há muito mais, claro, mas falo do que vem logo à mente quando penso nisso e que é socialmente associado aos japoneses): amor por karaokê, encantamento por marmitas, os bentôs, e o apreço pelo yakusoku, o comprometimento com a palavra empenhada.
No caso das marmitas, elas são as lancheiras da maioridade, e eu semprei amei lancheiras. Depois dos livros, talvez o melhor objeto da infância, especialmente com o suco de caju memorialístico. Além de guardarem o alimento, lancheiras e marmitas são portáteis, e eu adoro coisas portáteis, que me remetem ao deslocamento, ao poder estar em qualquer lugar. Além do mais, os bentôs são sempre lindos. Eu só precisava de uma desculpa boa para ter um só para mim - e ela veio junto com a aprovação como aluna especial novamente na UFBA - vou ter que passar um dia inteiro lá - e no curso de canto da EMUS. Me sinto volviendo a los diecisiete, com a diferença de que sou eu quem faço a comida.

Do amor à escrita

Como comentei por aqui, no 8 de Março participei de uma oficina online de escrita promovida pela Caixa Cultural de Salvador, somente mulheres, com a ótima Marília Librandi, que eu não conhecia e me encantou pela profundidade suave com que conduziu tudo. Me tocou especialmente sua fala de ter enfim se tornado aquilo que ela sempre soube ser: escritora. 
Quando eu era pequena, tinha uma certeza na vida: de que seria escritora e/ou artista. Amava desenhar e, um pouquinho maior, não via outro destino possível que não fosse o da escrita. Isso foi sempre incentivado, mesmo de modo indireto, por meus avós e minha mãe, e professores. Até a volta de meu pai ao nosso convívio, quando eu era pré-adolescente. Ele chegou e, sem ser convidado para jogar, derrubou as peças do tabuleiro, dizendo que eu era muito medíocre para ser desenhista. Não desisti completamente, indo desenhar casas e prédios no colégio; insisti mais na escrita, chegando a ganhar alguns concursos de conto e redação, desde o Ensino Médio, e prosseguindo, até porque comecei a trabalhar com revisão de texto no início da faculdade. 
Mas houve um momento que parei. Talvez pelo senso crítico desenvolvido no trabalho de revisora, mas sinto, hoje, que a ferida aberta pelo desamor e escárnio paternos tem seu papel nessa longa pausa. Nunca, nunca devemos subestimar o poder dessas feridas, mas não podemos deixar que seja maior que o nosso poder de superá-las, de olhá-las por cima do ombro, como faria Valeska Popozuda. 
Acho que a pandemia foi o momento de olhar para a ferida, mesmo não propositalmente - foi porque ali, naquele momento, com questões internas e externas, parei para retomar o que era importante para mim, aquilo que a menina que trago em mim acreditava que fosse o essencial. Sem o que eu não poderia viver? A arte gritou com força lá das profundezas. Conhecimento, viagens. Desenhar. Escrever. Me vi como a menina agarrada com o livro-amante nas ruas de Recife de "Felicidade clandestina". Santa Clarice, sempre a clarear os caminhos.
Fui atrás de uma pós em literatura infantojuvenil, um vício em querer me especializar. Mas não rendeu muito - conteúdo bom, estrutura confusa, pouca interação -, então desisti. E também não é bem assim que funciona, penso. Não precisa ser. 
Voltar a desenhar tinha acontecido há uma década, de forma despretensiosa, para enfrentar uma crise emocional. E não foi mais embora (o desenho, não a crise, que se resolveu, graças à deusa). Agora é a escrita que parece querer voltar depois desse encontro com mulheres tão potentes, talentosas e desarmadas para o encontro consigo. De minha parte, sempre algo a aprender, sempre essa incompletude que, se às vezes me angustia diante do todo imenso que é viver, acaba sendo meu combustível para a própria vida, a busca incessante, o caminho que se faz ao andar, peripateticamente (aliás, tive que escrever sobre Aristóteles dia desses e pensei, nos meus delírios, que ele, com suas caminhadas e apreço pelas regras e pela ética, deveria ser filho de Ogum!). 
O exercício proposto por Marília no 8 de Março para a escrita foi perfeito: simplesmente escreva, sem pensar demais. Aceitar o fluxo, deixar virem as águas, como as pororocas tsunâmicas dos meus sonhos. Escrevamos.

quarta-feira, 12 de março de 2025

terça-feira, 11 de março de 2025

Pelo amor do livro!

Emprestei um livro e ele voltou desbeiçado, a película da capa descolada e parcialmente arrancada de modo displicente, como eu ainda não tinha visto acontecer entre os meus. Provavelmente vou restaurá-lo. Porém, fiquei espantada com o desamor pelo objeto. Claro que um livro amado nem sempre fica inteiro, às vezes tem marcas da leitura, anotações, até manchas de café e tal, como hematomas, sinais da paixão (talvez abusiva?) que desperta. Acidentes podem acontecer? Com certeza. Mas o mínimo que se espera é um aviso a respeito. Ou não? Só sei que este foi tão somente devolvido, sem grandes comentários acerca do conteúdo, nenhum a respeito do estado atual, objeto puro e simples. Voltou roto sem sequer ter despertado qualquer paixão. Mais parece que foi lido por "estar na moda".
Sei que estou ficando mais chata e menos tolerante com a idade. Não que eu fosse zen, isso nunca fui. É que eu amo livros, tenho respeito por eles, não são um simples objeto para mim. Ainda pretendo ter um novo projeto de leitura - mas, para que mais pessoas possam ler, é preciso cuidar bem dos livros. Circularidade sim, simples descarte não - para tudo na vida.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Saldos de Carnaval

Este ano resolvi sair de Salvador durante o Carnaval. Estava um pouco aflita demais, sem energia para curtir a saga dionisíaca. Fui para meu antigo mato, não sem antes curtir o ensaio do Cortejo Afro com Cris, mesmo com uma súbita, porém nunca inexplicável, lombalgia. 
Não escapei do barulho, porque houve duas madrugadas de pancadão, impossível dormir. Mesmo estragada, trabalhei em uns jobzinhos que pintaram, porque ficar parada, nunca. Deu para pegar um solzinho, tocar um cajonzito, levar cachorro sofrido para tosar, dar banho em outra, ter meu chinelo destruído por uma terceira, admirar o bichano totalmente relaxado entre os irmãos cachorros, ouvir o ex reclamando das tarefas domésticas agora feitas por ele...
Na volta, encontrei bilhetinho amoroso e casa cheirosa depois da saída dos hóspedes queridos Júlio e Cris. Não parei de trabalhar, já em casa, mas consegui fazer, de última hora e online, ainda no rescaldo carnavalesco, uma oficina de escrita pela Caixa Cultural de e com mulheres no 8 de março, guiada por Marília Librandi, que vale outra postagem. 
Sem glitter, sem suor, sem multidão. Ao fim e ao cabo, foi bom também, foi o que eu podia e queria.    

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Bailaora es su nombre

Beleza em todos os detalhes. 
Não estava podendo não. Mas disse sim. Enquanto tempo quiser. 
Não há nome mais apropriado, não há versos mais perfeitos que os gravados por Alejo na lateral desse instrumento pequeno e tão nobre. João Cabral amaria se saber, ainda uma vez, eternizado nesse objeto que faz renascer Sevilla a cada toque e mesmo em seu silêncio.
Estudos para uma bailadora andaluza
I
Dir-se-ia, quando aparece
dançando por siguiriyas,
que com a imagem do fogo
inteira se identifica.
Todos os gestos do fogo
que então possui dir-se-ia:
gestos das folhas do fogo,
de seu cabelo, sua língua;
gestos do corpo do fogo,
de sua carne em agonia,
carne de fogo, só nervos,
carne toda em carne viva.
Então, o caráter do fogo
nela também se adivinha:
mesmo gosto dos extremos,
de natureza faminta,
gosto de chegar ao fim
do que dele se aproxima,
gosto de chegar-se ao fim,
de atingir a própria cinza.
Porém a imagem do fogo
é num ponto desmentida:
que o fogo não é capaz
como ela é, nas siguiriyas,
de arrancar-se de si mesmo
numa primeira faísca,
nessa que, quando ela quer,
vem e acende-a fibra a fibra,
que somente ela é capaz
de acender-se estando fria,
de incendiar-se com nada,
de incendiar-se sozinha.
II
Subida ao dorso da dança
(vai carregada ou a carrega?)
é impossível se dizer
se é a cavaleira ou a égua.
Ela tem na sua dança
toda a energia retesa
e todo o nervo de quando
algum cavalo se encrespa.
Isto é: tanto a tensão
de quem vai montado em sela,
de quem monta um animal
e só a custo o debela,
como a tensão do animal
dominado sob a rédea,
que ressente ser mandado
e obedecendo protesta.
Então, como declarar
se ela é égua ou cavaleira:
há uma tal conformidade
entre o que é animal e é ela,
entre a parte que domina
e a parte que se rebela,
entre o que nela cavalga
e o que é cavalgado nela,
que o melhor será dizer
de ambas, cavaleira e égua,
que são de uma mesma coisa
e que um só nervo as inerva,
e que é impossível traçar
nenhuma linha fronteira
entre ela e a montaria:
ela é a égua e a cavaleira.
III
Quando está taconeando
a cabeça, atenta, inclina,
como se buscasse ouvir
alguma voz indistinta.
Há nessa atenção curvada
muito de telegrafista,
atento para não perder
a mensagem transmitida.
Mas o que faz duvidar
possa ser telegrafia
aquelas respostas que
suas pernas pronunciam
é que a mensagem de quem
lá do outro lado da linha
ela responde tão séria
nos passa despercebida.
Mas depois já não há dúvida:
é mesmo telegrafia:
mesmo que não se perceba
a mensagem recebida,
se vem de um ponto no fundo
do tablado ou de sua vida,
se a linguagem do diálogo
é em código ou ostensiva,
já não cabe duvidar:
deve ser telegrafia:
basta escutar a dicção
tão morse e tão desflorida,
linear, numa só corda,
em ponto e traço, concisa,
a dicção em preto e branco
de sua perna polida.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Horinhas de descuido

É o velho Rosa quem me faz lembrar da felicidade em horinhas de descuido. 
Não ando muito feliz nem otimista nos últimos dias, tempos, apesar do meu impulso "descuidado" de continuar fazendo as coisas, mesmo quando não é muito sensato, indicado etc. Outro dia me manquei de que herdei isso de minha mãe, esticar o braço além da conta. E o contexto ao redor, realmente, não ajuda em nada. 
Bueno, ainda assim e por isso mesmo fui fazer mais aulas de cajón. Voltei ao flamenco este mês, pelo menos. Palmilhando o Rio Vermelho, achei um restaurante de comida natural bem bom, Manjericão, e logo abaixo o Café Floresta, que tinha bolo de cupuaçu. Preços salgados, mas tudo de ótima qualidade. 
E tive mais um gostinho, além do bolo de cupuaçu, de felicidade descuidada: fui ver Caetano e Bethânia na Fonte Nova, a convite da queridíssima Cris. Carinho da amiga e também do invisível para tomar fôlego.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Agradecer antes de tudo

Mais um Dois de Fevereiro em Salvador, com amigos. Sem discussão, minha festa de rua favorita. Mas, como no ano passado foi um sufoco achar um lugar para beber e comer - tudo inflacionado no Rio Vermelho -, resolvi fazer uma feijoada em casa. Cada convidado trouxe uma contribuição - farofa, couve, sobremesa, vinagrete, bebidas - porque os tempos estão bicudos para os não herdeiros (e somos tantos! cadê a revolução?).
Saímos pouco antes das 8h para o Rio Vermelho. O sol das 9h parecia o do meio-dia. A multidão parecia maior que a do ano passado. Os mocinhos dos lavapés lá estavam, graciosos e indispensáveis. O acarajé ainda pela manhã nos levou até Cira. Lancei uma rosa de cada cor, em gratidão à Mãe d´Água, à Mãe de Todos. Agradecer antes de qualquer coisa, sempre. Liberar o caminho das águas.

domingo, 26 de janeiro de 2025

Encontro fortuito

Adoro encontrar gente querida de forma inesperada. Edna e família estavam aqui em Salvador, e precisavam de algum lugar onde deixar as malas até a hora do voo. Imagine se não ia chamá-los para virem aqui! Mais umas horinhas para botar papo bom em dia.

sábado, 25 de janeiro de 2025

Cajón

E lá fui eu me arriscar.
Tenho um amor incomensurável pela música, mas nunca estudei nada - teoria musical, instrumentos, canto. Só cantei em coral, e sempre foi algo arrebatador.
Ao lado do amor, o temor de algo verdadeiramente novo. Quando falo em me arriscar em coisas que envolvam habilidades manuais, no fundo há um certo conforto, pelo menos maior do que em coisas que envolvam sons e ritmos. 
O professor, João Paulo, a paciência encarnada. Eu, para variar, a única que não manjava nada de música (todo mundo já tinha feito ou faz aulas de alguma coisa - piano, percussão, bateria, pandeiro). Houve momentos que dei uma "dublada"; em outros, fechei os olhos para ouvir melhor. Às vezes, parecia que meu cérebro ia entrar em curto. 
Pode ser só a idade, mas pode ser também porque pela primeira vez estou fazendo algo que me tira realmente da zona de conforto. E por que saímos da zona de conforto? No meu caso, acho que é porque quero manter meu cérebro ativo, não só com coisas diversas no dia a dia, mas com coisas de fato novas, para as quais ele precisa ampliar as redes neurais.  
O fato é que me sinto caminhando em direção ao desconhecido, como quem se apaixona pela primeira vez. Pode dar ruim, mas pode ser sublime - quem me garante que não?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Mais estranho que a ficção é passar pano pra macho em 2025

Nos últimos dias, um escândalo editorial ganhou as redes, guardadas as devidas proporções - sim, porque é, ainda, um basfond "de nicho", não interessa à maioria da pessoas que ainda leem notícias. Claro que chamou a atenção das pessoas do meu círculo, porque conhecemos os envolvidos ao menos pelo nome. Foi uma amiga do círculo que me enviou o link do podcast Rádio Novelo, que eu já seguia - mas o link era para o episódio "CPF na nota?", que tratava de um caso de assédio e traição vivido pela escritora Vanessa Barbara. 
O que ela narra, tão antigo e atual, vai, como se fosse a primeira vez, fazendo aumentar nosso desespero, ansiosas para que termine logo, para que ela chute o macho escroto logo. Mas não, ela narra em detalhes, sem citar nomes, como aconteceu, e não como queríamos que acontecesse, e o tormento é longo para nós, foi longuíssimo, infinito, para ela. 
Claro que logo, nas redes, apareceu a lista de envolvidos, o ex(graças à deusa)-marido sócio da editora Todavia e os tais amigos do marido, editores e escritores de renome. De um deles, aliás, fui reler um livro no ano passado e pensei "esse cara não entende nada de mulher". De um outro, li um livro super incensado que achei péssimo, mas até aí, OK, opinião minha (será? ou será que ele conseguiu os holofotes por fazer parte de um clube? é uma possibilidade também).
Em alguns dias, o assunto escalou nas redes, com direito a carta aberta do ex-marido se desculpando e a editora Todavia se dizendo contra qualquer forma de violência etc. Que ótimo, mas, como colocaram diversas pessoas (mulheres, subentenda-se), por que não fizeram algo prático para reduzir a desigualdade entre homens e mulheres? Sim - porque não só o sujeito traiu a mulher, mentiu, manipulou, expôs a intimidade para o grupo de 14 amigos escritores e editores cisgênero, como também ela perdeu oportunidades de trabalho. Nunca li nada de Vanessa, mas agora sei que ela era uma jovem promessa literária, com direito a Jabuti - mesmo morando no Mandaqui e "com desenho esquisito de sobrancelha", como fez questão de apontar a atual mulher de André Conti (vamos dar nome ao boi?). 
E aqui o horror do trauma sofrido há 14 anos (trauma não tem data de validade, vale assinalar) foi para outro nível, o da autoexposição da esposa. Pior: vindo de uma mulher, escritora, nordestina, que se diz feminista e que, entre seus argumentos, critica o "país de merda onde vive" (e que um escritor não consegue sobreviver do que escreve, e pior é para as mulheres, vejam só), mete um "quem nunca errou, quem nunca teve grupo pra falar mal dos outros", além das já mencionadas críticas à aparência e à origem de Vanessa (ela fala até dos gostos pessoais da outra, misericórdia, como as tartarugas, o vôlei, a aparência do novo marido). Não contente, diz que Vanessa não sabe escrever, ninguém a lê, embora use o fato de Vanessa ter sido premiada, ter viajado e escrever para alguns veículos importantes justamente como argumento de que ela não foi jamais prejudicada pelo clube do bolinha editorial do qual Conti faz parte. Ela faz um desserviço a si mesma, em vez de deixar o marido resolver seu próprio B.O. (sei bem como é, vivi uma situação de uma ex querer me colocar no problema que ela tinha com meu parceiro, e eu disse não, e pedi a ele para resolver o que tinha a resolver com ela, que não era um problema meu). Então, a questão não é de mulheres disputando o macho, a esposa é outra vítima, não é uma rinha para divertir homens, nem se trata de invasão de privacidade (como alguns parças do careca argumentaram, porque Vanessa descobriu a traição e a invasão à privacidade DELA porque monitorou o computador de André) mas, de novo, sobre as desigualdades de sexo e de gênero que normalizam e normatizam comportamentos misóginos, abusivos (nem comentei o gaslighting do ex, que sugeriu que ela aumentasse a dosagem do remédio para depressão) e impedem mulheres de estar em toda parte onde gostariam de estar. 
A propósito disso, os lugares ocupados por mulheres, acabei me lembrando do texto de Antonio Prata quando saiu a notícia de que uma futura lista da Fuvest só teria autoras. Mulheres. Ele ficou inconformado com a ausência dos "cânones", leia-se "homens", puro suco da cultura hegemônica patriarcal. E hoje, ao me lembrar disso, topei com um texto da genial Jana Viscardi, rebatendo Marcelo Rubens Paiva (sim, o autor do legitimamente celebrado Ainda estou aqui), que respondia, solidário, a Prata com um pesaroso "eu, como homem branco, hetero, cis, não me atrevo a dizer mais nada". Parecido com o texto do Chico Bosco que comentei aqui. Os homens estão sofrendo, coitados.
Nós, mulheres, já estamos há tempos perguntando o que fazer para mudar essa situação. E os homens, gostariam de mudar essa situação, de mudar a si mesmos, de melhorar? Alguns, com certeza sim. Mas a maioria me parece ainda confortável em seus privilégios - alguns emprestados, porque homens gays e negros não gozam de todos os privilégios de brancos cisgênero, podem compor quando muito masculinidades cúmplices ou subalternas, como aponta Raewyn Connell. 
O vídeo de Pedro Dória, por exemplo, comentando o episódio da Rádio Novelo é de embrulhar o estômago, mostrando um homem que não só quer manter as estruturas patriarcais como são como também quer explicar às mulheres (mansplaining é o nome disso) como devem se sentir e lidar com suas dores, misturando, na argumentação pífia e arrogante, guerra ideológica, pautas identitárias, luta entre esquerdas, com seu viés totalmente hegemônico. Em compensação, Milly Lacombe publica um vídeo falando da raiva das mulheres, motivada justamente pelas estruturas intimamente defendidas por Dória, mas o que ela propõe é diálogo, é melhora, não só para mulheres, mas para todas, todos, todes. É isso o que as feministas de fato propõem.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Às vezes eu quero demais, e eu nunca sei se eu mereço

Meodeos, já vai acabando janeiro e ainda nem consegui organizar as 300 ideias que tive. E isso porque este ano resolvi que iria me concentrar em poucos projetos, só que eles começam a se desdobrar, como um origami ao contrário, e aí... 
Ainda no ano passado, resolvi que ia costurar um macacão para depois bordá-lo. No meio do caminho, a aquarela se impôs, o cajón veio em seguida, estudar teoria musical... Daí pensei em comprar um macacão ou blusa ou vestido pronto para bordar, mas está tudo tão caro, ou tão malfeito que desisti. Entonces me lembrei de um vestido jeans que eu adoro, mas só tenho usado em casa, já antiguinho. Por que não?
A ideia permanece, um mar de palavras (inclusive a frase de Antonio Cícero que dá título ao post). Água de novo. Nova releitura de Hokusai. Minha outra parcela de ancestralidade - antes foi a nordestina, com o são Francisco.Vai dar certo? Sei não, só sei que os dedos já coçam. Que as deusas me inspirem. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Os desafios da glicose podem ser legais

Outro dia, Guga me enviou um e-book de uma francesa, Jessie Inchauspé, que ficou conhecida como Deusa da Glicose. Ela é matemática e biocientista, e aprendeu na pele como a glicose influenciava sua disposição ao longo do dia. Não se trata de uma dieta, mas de dicas de como se alimentar - a ordem dos tipos de alimento - para evitar picos e vales de glicose, que causam indisposição, sono etc. 
Claro que essa flutuação extremada pode ser causada por intolerância à insulina, diabetes, mas a ideia de operar pequenas mudanças na maneira de me alimentar, mais do que no tipo de alimento, me pareceu atraente. Inchauspé fala, inclusive usando gráficos e estudos em publicações científicas, da importância de se comer verduras antes de tudo, depois proteínas, por fim carboidratos - incluindo frutas e o docinho após o almoço. Também insiste na cilada dos sucos de frutas, especialmente o de laranja, ai jesus - nada que eu não soubesse, mas é mais duro com evidências científicas.
Eu achei bacana, porque se pauta em explicações que fazem mais sentido para mim do que só dizer que "é bom" começar pela salada. Tudo se relaciona com a ação da insulina e, portanto, da glicose no organismo. Daí não preciso abrir completamente mão do pão, mas convém reduzir o açúcar adicionado MESMO. Excesso de lácteos, já sei, me dá refluxo e alergia. Mas, por paradoxal que pareça, a liberdade de escolha acaba por despertar a vontade de ser mais saudável.

Na guerra contras as identidades, a maioria perde

Um dos efeitos indesejados do sucesso do filme Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr., foi evidenciar ainda mais o ataque contra as pautas identitárias. Em meio à premiação de Fernanda Torres como melhor atriz de drama no Globo de Ouro (com direito a aplausos entusiasmados e em pé de Tilda Swinton), houve comentários negativos, inclusive do Chavoso da USP, sobre o valor do filme, já que retrata pessoas brancas, de classe média alta, enquanto pessoas negras sofrem o terror todo dia, até hoje. 
Como discordar dessa constatação, de que pessoas pobres e negras sofrem muito mais que pessoas brancas e com mais recursos? O problema é encampar a luta por quem sofre mais em vez de se unirem todos contra o opressor comum - capitalismo, patriarcado, a zorra toda. Cujos líderes seguem felizes enquanto nos atacamos uns aos outros. A iniquidade não vai acabar com lutas internas. E ainda mais quando pessoas da própria esquerda ou minimamente mais liberais veem as pautas alheias como frescura. Vejo isso no meu círculo, e sinto uma tristeza enorme, mas também uma preguiça de debater. É nesse desencontro que a extrema direita se fortalece, e as desigualdades sociais seguem cristalizadas.
Até o fato de Walter Salles Jr. ser rico serviu de argumento demeritório. Mas que bom que ele resolveu empregar o dinheiro dele (não, ele não usou a Lei Rouanet) para produzir um filme com ESSA história, sobre AQUELE período. E que valor imenso teve Eunice Paiva, para além de esposa do ex-deputado Rubens Paiva, na constituição da Comissão da Verdade para apuração das mortes dos desaparecidos políticos e também junto aos povos indígenas. Que bom que as lutas que escolheram foram pela maioria da população, e não somente pelos integrantes de seus quadrados. Se negassem as existências, as identidades alheias - as ALTERIDADES -, perderíamos muito mais e nem nos daríamos conta.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O vaivém de Virginia

Na época do colégio, eu adorava copiar fotos e ilustrações que me encantavam, como os retratos de Virginia Woolf, Olga Benário, Chico Buarque e a famosa ilustração de Santiago e o menino feita por Raymond Sheppard para O velho e o mar. Costumava presentear os amigos com minha "cópia", às vezes na forma de cartão de aniversário. Quando encontrei Carlos, ele me lembrou de eu tê-lo presenteado com uma releitura de Picasso num cartão. Ousada, eu. 
Dos retratados, Virginia Woolf é a que volta e meia mais me reaparece na vida. Desde sua descoberta, aos 14 anos, com Orlando, que me espantou em tudo, passando por Entre os atos, aos tardios Um teto todo seu e Mrs. Dalloway
Calhou de minha cunhada ser uma especialista em Woolf e nos presentear com suas traduções primorosas. E Woolf, que havia voltado como ícone feminista, agora retornou com um trabalho. Daí recuperei este desenho feito nos anos 1990. Acho que suavizei o queixo, um pouco mais proeminente. Mas continua me encantando/espantando essa personalidade tão repleta de luzes e sombras, uma ode marítima de emoções.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Que venha 2025

Uma virada simples, com amigas recentes, jantar e praia. Coordenando o comer 12 uvas e saltar sete ondas, beber espumante, tudo ao mesmo tempo, no meio da alegria e da esperança gerais. E deu certo, e vai dar certo. Que venha 2025, prontas estamos.

Um dia, você enfim soube o que tinha que fazer


Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

Arquivo do blog