quarta-feira, 15 de maio de 2019

Comida que alegra o coração

Na semana passada, não estava a fim de nada. Só queria dormir. Trabalhar, cozinhar, me exercitar, nada. Mas não teve jeito, tinha trabalho a fechar, tinha marido para alimentar, casa pra cuidar - deixei só a mim mesma de lado, como costuma acontecer comigo e com milhões de mulheres. O ânimo, a alma, estava um caco. A chuva forte, que derrubou outro pedaço do muro e isolou o litoral norte de Salvador, só aumentou o caos, interno e externo - não conseguimos nem ir ao show de Djavan, cujos ingressos comprei há mais de um mês. Fiquei meio catatônica, sem saber se era infelicidade ou não, depressão leve ou não.
No início desta semana, retomei tudo, pelo menos de fora pra dentro. Não me jogando de vez, mas já fazendo alguma coisa. O sono persiste, e quando possível durmo um pouco. Trabalho. Resolvo pendências de casa. Vou ao mercado algumas vezes. E cozinho.
Resolvi cozinhar coisas de que gosto e que não vão explodir meu colesterol, apesar da manteiga, se feitas para compartilhar. Porque concluí que amo manteiga, caramelo, queijo, e esses ingredientes me fazem feliz. Daí fiz quiche, croque monsieur, maçã com crumble de aveia e caramelo ao leite. E fiquei feliz. Mesmo sem resolver questões internas, saber que sou eu quem pode conferir sabor à minha vida já é um passo gigantesco.

sábado, 11 de maio de 2019

Consumo sustentável, microeconomia e as verdadeiras redes sociais

Valorizo cada vez mais os pequenos produtores, até porque caminho nessa direção desde sempre, encantada pela criatividade, pela força do artesanal, pela economia solidária. 
Tenho ainda poucos fornecedores nessa linha - por ora, o do mel orgânico do Vale do Capão, que me entrega o produto em Salvador, meu vizinho Mr Blond, com os ovos de galinha caipira, e os meninos da Gato Maloko, que me socorrem sempre que preciso de um móvel sob medida muito bem feito e de viés ecológico, como essa fruteira de madeira que atendeu a pequenas mudanças na cozinha.
Quando estivemos na Feira da Reforma Agrária, há quase um ano, fiquei emocionada e querendo muito ter mais contato com esse comércio sustentável. Embora o momento sociopolítico atual seja tão desanimador, pouco a pouco vamos caminhando em direção a um estilo de vida mais ético, inclusivo, ecológico - arriscaria até dizer, ecumênico, uma real tradução da ideia de rede

Primeira FLIPF e A Queijaria: o que é que a Praia do Forte tem?

Conversando com minha amiga Liu pelo WhatsApp, soube que haveria na Praia do Forte uma feira literária, a primeira do gênero no lugar. Logo tentamos combinar de ela e o marido virem pra cá e daí irmos juntos à FLIPF. Infelizmente, eles não conseguiram chegar e fomos, eu e Guga (que não estava botando muita fé no evento), para lá, já no final da tarde.
Quando chegamos, muita coisa devia ter acontecido. Pelo menos, ainda chegamos em tempo de visitar o espaço das editoras baianas. Quase comprei uma reedição de Orixás, de Pierre Verger, mas lembrei dos gastos com a casa e desisti. Em compensação, achei um livro mais do tamanho do meu bolso, O sal é um dom, de Mabel Velloso, que outro dia estava sendo oferecido no Shopping Iguatemi para quem almoçasse ou jantasse em alguns restaurantes do shopping, em um evento que homenageava a culinária do Recôncavo. 
Estava rolando também uma exposição na Escola São Francisco, no centrinho, de textos literários premiados, produzidos por alunos de toda a Bahia, uma fofura. 
Mas, talvez, o melhor da ida à Praia do Forte tenha sido descobrir uma filial de A Queijaria na rua principal. A proprietária, Mariana, é irmã do criador da casa, em SP. O lugar é pequeno e lindo, os queijos, maravilhosos. Provamos vários, e acabamos levando o Pico Alto, saborizado em gim. Tem consistência de boursin, mas lembra no sabor um gorgonzola suave. Comemos ao chegar em casa, no lugar de jantar, e no outro dia fiz um risoto com peras e nozes, muito bom. 
Em suma - a Praia do Forte vale sempre a visita. Tem feira de livros, queijos, sorvete, pizza, comida mexicana, música boa, tartarugas. Tem alto astral. Pudesse eu, teria uma casinha lá, fácil, fácil. 

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Processando alimentos: chocolate enquanto pão e polpa de acerola

Faz tempo que não compramos ovos de chocolate para a Páscoa. Acabamos sendo demovidos pelo preço discrepante cobrado por duas finas cascas de chocolate com alguns bombons dentro - melhor é comprar os chocolates e preparar algo gostoso para a ocasião. Nas últimas edições pascais, já fiz bolo de chocolate com ganache, pain au chocolat, roscas de frutas e chocolate, tarteletes de chocolate e avelã com morangos, torta de maracujá e chocolate e, este ano, babka de creme de avelãs com chocolate. Inspirada pelo chocolate, até pão australiano, na versão de forma e brioche, rolou. Garanto que tudo valeu muito a pena. 
Também por esses dias as aceroleiras deram fruta como nunca. O risco era deixar de colher e a chuva derrubar tudo, como aconteceu na safra passada. O marido colheu várias bacias de acerola, e eu me concentrei em processar o máximo que pude. Dá um trabalhão: tirar a sujeira mais grossa (galhos, insetos, cabos), escolher as melhores, lavar em água corrente, deixar de molho em água com solução desinfectante, enxaguar, liquefazer, coar e embalar. Mas, mesmo não dando conta de tudo o que foi colhido, ainda tivemos muitos saquinhos de polpa para ocupar o freezer. E um suco absurdamente bom e fresco. 

sexta-feira, 19 de abril de 2019

As babkas de Páscoa X a cã comedora de manteiga

Chica é muito louca. Além de uma certa bipolaridade - passa da alegria ao drama em segundos -, ela devora tudo o que vê. Não só Crocs, como costuma acontecer com cachorros pequenos, mas também cigarras, tapetes, fechos plásticos para pacotes e... manteiga. Deixei um pote sobre a bancadinha de trabalho com 340 g de manteiga em pomada. Saí por 10 minutos para falar com minha sogra e, na volta, dou de cara com o pote esvaziado quase até o fim. Ou seja, ela comeu, sem derramar uma gota no chão, mais de meio pote de manteiga amolecida. Claro que foi um vomitório só até a hora de ela dormir. Hoje, um pouco também. 
Fiquei muito brava, mas por sorte tinha comprado mais manteiga, e pude fazer as babkas de Páscoa, que ficaram deliciosas. Quem provou, aprovou. De qualquer modo, não é mais possível tirar os olhos da magrela - algo de que ela, tão carente, jamais reclamará.   

terça-feira, 16 de abril de 2019

O mimimi é o pretexto dos intolerantes e covardes

Mimimi é uma coisa meio sem dono. Se alguém começa a reclamar demais, logo se fala em mimimi, servindo para designar chatos de direita e de esquerda. Ultimamente, o pessoal da ultradireita se apropriou do termo para se referir aos defensores do politicamente correto.
De todo modo, até mesmo quem não se define nem de direita nem de esquerda, por osmose, tem falado em mimimi para se referir a questões fundamentais, seriíssimas, como as que envolvem violências contra mulheres, negros, pobres, nordestinos e público LGBTS. Debaixo do meu nariz mesmo ouvi outro dia uma série de falas impensadas:
"- Quer dizer que não pode mais falar que a coisa tá preta?"
"- Ah, eu acho muita neurose isso. Quer dizer que não pode falar mais nada? Esse povo exagera! Ficou tudo muito chato com esse politicamente correto!"
Dali se passou à esperada associação com o bullying de outros tempos: "Na minha época, era normal falar essas coisas, ninguém se ofendia". Ainda tentei argumentar que nunca uma pessoa branca poderá saber o que é se colocar no lugar de uma pessoa negra que sofre todo tipo de violência, então o que lhe resta é apenas respeitar a maneira como o outro se sente. Mas para ouvidos moucos não há muito o que fazer. Está tudo entranhado, e é preciso muita consciência (algo que "reprodutores" de pensamento naturalmente não têm) e vontade de mudança para arrancar as raízes do preconceito.
Eu mesma reproduzi esse discurso por algum tempo (a chatice do politicamente correto), mas logo caí em mim de que o politicamente correto era uma forma, talvez a única na contemporaneidade, de compensar o desprezo pela ética em si, um paliativo, como as cotas na universidade. Não são o ideal, mas já são alguma coisa. Hoje, graças ao politicamente correto, o ruído é maior, os brados contra a intolerância e a covardia são mais altos, que coisa maravilhosa!
Tenho aprendido muito realizando a pura escuta. Também lendo nas redes sociais o que pensam amigos diversos - mulheres, negros, LGBTS. Sei que o exercício da alteridade é limitado - jamais sofrerei o mesmo que negros e LGBTS -, mas é essencial. E porque tenho tantos queridos lutando contra intolerâncias é que me solidarizo e cerro fileiras com eles. Por isso, ouvir que suas lutas são "mimimi" me incomoda muito e me faz ver com outros olhos as ditas pessoas "normais", e me faz preferir outras companhias no caminho.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Massas de final de semana: lasanha de espinafre e babka de avelã e castanha de caju

O final de semana é sempre muito curto para fazer tanta coisa! São arrumações da casa em geral, colocar estudos em ordem, ir a algum evento de amigos ou sair para tomar uma cervejinha e, principalmente, fazer experimentações gastronômicas. Sábado e domingo normalmente são meus dias de fazer testes - até pouco tempo, muitos testes de confeitaria, mas os quilos a mais fizeram que eu mudasse o foco das experimentações. 
No último finde, resolvi usar o espinafre em pó que comprei na Casa de Saron para fazer uma massa verde. Um pacotinho de 200 g rende muito - para 400 g de farinha e 4 ovos, por exemplo, bastam 16 g de espinafre em pó para já garantir aquela cor linda da massa. Fiz as placas de lasanha (doze, no total) bem finas, e minha sogra preparou dois molhos, o bolonhesa e o branco. A massa ficou perfeita. 
A outra experimentação foi uma nova receita de babka de creme de avelã, por conta da Páscoa. Receita do Prato Fundo, totalmente aprovada e já divulgada. 
A alegria de fazer algo que nutre o corpo e a alma de todos não conhece o que se lhe compare. Isso enriquece qualquer fim de semana.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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